Monitoramento remoto de plantações de milho em fases reprodutivas críticas

O pendoamento é a fase reprodutiva do milho em que os pendões, localizados no topo da planta, produzem pólen. A fase de pendoamento é importante tanto para o rendimento quanto para a qualidade do milho, sendo necessário tomar cuidados extra para que as plantas estejam em condições ótimas nesta fase.

Apesar do tamanho potencial da espiga já ser determinado na fase de crescimento anterior, o que acontece neste período determina a capacidade da planta de expressar seu potencial produtivo. Quanto maior for a polinização, melhor será o rendimento final.

Florescimento do milho

Como pode o monitoramento por satélite ajudar o produtor?

A capacidade de monitorar a evolução dos cultivos e detectar problemas no campo antes da manifestação de sintomas é crucial para uma colheita bem sucedida. Os importantes avanços da tecnologia permitem capturar imagens de explorações de todo o mundo com a ajuda de satélites, tornando assim o monitoramento simples e acessível.

Durante o pendoamento, a cultura é vulnerável a infestações de insetos e surtos de doenças. Esta fase dura entre 10 e 14 dias, durante os quais a vigilância é crucial. Com a ajuda do monitoramento por detecção remota, é possível identificar com grande precisão a transição para a fase pendoamento. A precisão desta análise pode ser muito elevada, no caso de campos varridos diariamente por satélite, dado que esta ação identificar a transição para a nova fase com apenas alguns dias de atraso.

Para monitorar a transição de fase, analisamos o índice de área foliar (LAI). O LAI é definido como a área foliar verde unilateral por unidade de área de superfície do solo. A previsão do pendoamento do milho com base no índice de área foliar é uma técnica que utiliza as medidas do LAI para estimar quando entrará o milho em sua fase reprodutiva. O monitoramento por satélite do índice de área foliar é uma forma recente e inovadora de monitorar a vegetação, alternativa aos métodos tradicionais de monitoramento baseados em medições no local.

Identificação da fase de pendoamento com base em monitoramento por satélite

Uma vez identificada a transição de fase, podemos usar as varreduras por satélite para monitorar o estado de saúde da planta. Na fase de pendoamento, torna-se crucial acompanhar bem de perto a saúde das plantas. Nesta fase, qualquer estresse resultará em perdas irreversíveis, pelo que é importante poder agir rapidamente. A realização frequente de varreduras por satélite é essencial. Com satélites monitorando diariamente os campos, o produtor poderá identificar problemas de forma muito precoce, evitando assim sua propagação. A resolução espacial é outro fator de relevo: uma resolução de varredura de 3 metros permite observar melhor qualquer pequena alteração nos indicadores de saúde das plantas.

O produtor pode usar o sistema Agrio para monitorar o estado de saúde de suas culturas de forma muito simples. Para tal, basta definir a localização do campo, desenhando um polígono que irá representar os limites desse mesmo campo. Uma vez realizado este passo, estará dado o pontapé de saída para nos permitir realizar um monitoramento constante para você e notificá-lo assim que estiver disponível uma nova varredura.

Nossa plataforma permite acesso às varreduras realizadas por satélites Sentinel e PlanetScope. Com os Sentinel, conseguimos oferecer varreduras com uma resolução de 10 metros, repetidas a cada 3-5 dias. PlanetScope é uma das constelações de satélites operadas pela Planet. Suas passagens diárias e resolução de 3 metros permitem lidar melhor com as interferências provocadas pelas nuvens e acompanhar mais de perto as mudanças nos campos. Aplicamos nosso algoritmo às imagens de satélite para monitorar a evolução das culturas, detectar problemas no terreno e alertar o produtor sempre que for necessário intervir.

Quando a varredura detecta um problema, é necessário inspecionar as plantas no local. Apresentamos em seguida um resumo dos principais problemas que produtores e consultores de culturas poderão encontrar durante a fase reprodutiva.

Lagarta-da-raiz do milho

As larvas das lagartas-da-raiz do milho (Diabrotica balteata, Diabrotica undecimpunctata, Acalymma trivittatum, Diabrotica undecimpunctata howardi), alimentadas pelas raízes, atingirão a fase adulta durante o período que vai do pendoamento ao embonecamento e à polinização. O insucesso no controle desta praga poderá resultar em problemas na formação dos grãos. A mosca taquinídea parasitoide, Celatoria diabroticae é uma boa forma de controle biológico.

Lagarta-da-raiz do milho

Lagarta-do-cartucho do milho

A lagarta-do-cartucho do milho pode causar danos significativos às culturas, devendo ser tratada durante a fase de “enchimento dos grãos”. As plantas mais fracas tendem a ser atacadas pelas lagartas antes das outras plantas maiores e mais saudáveis. Quando detectadas 3-4 ou mais lagartas por planta, poderá ser boa ideia aplicar inseticidas, de modo que suas culturas possam atingir seu potencial máximo.

Prefira as variedades transgênicas conhecidas como “variedades Bt”, que apresentam boa resistência contra esta praga. Mantenha as imediações das áreas plantadas limpas de ervas daninhas, detritos vegetais, matéria vegetal descartada e plantas indesejadas, não cultivadas e desprotegidas.

Lagarta-do-cartucho do milho

Broca europeia do milho



A broca europeia do milho passa o inverno como larva adulta nos pés de milho e em ervas daninhas. Verifica-se uma interação significativa entre a broca europeia do milho e a antracnose. A presença de ambas pode representar danos graves nos caules e colmos das plantas. Dada a gravidade destes danos, a colheita precoce poderá ser recomendada, por forma a limitar o risco de a infestação resultar em baixos rendimentos.

Danos causados pela broca europeia do milho

Ferrugem comum

A ferrugem, como o nome indica, é caracterizada pelo aparecimento de manchas que vão do amarelo ao marrom alaranjado ou cor de ferrugem, tanto nas faces anteriores como posteriores das folhas infectadas. Regra geral, os sintomas não se manifestam até depois do pendoamento. Esta doença é causada pelo fungo Puccinia sorghi, cujos esporos são facilmente dispersos pelo vento, o que o coloca entre os patógenos das plantas mais facilmente transmissíveis do mundo.

Sintomas de ferrugem em folha de milho

Helmintosporiose comum

A helmintosporiose é uma doença fúngica que surge frequentemente quando o milho é cultivado ano após ano no mesmo campo, especialmente se houver um preparo insuficiente do solo. A helmintosporiose é favorecida por condições de humidade elevada, mas tem dificuldades em se desenvolver perante temperaturas extremas, sejam elas muito fria sou muito quentes.

As lesões elípticas, em forma de “charuto”, aparecem primeiro nas folhas inferiores e vão progredindo para cima com o passar do tempo. Se ocorrerem surtos desta doença antes do embonecamento, é expectável uma grande perda de rendimento.

A helmintosporiose permanece adormecida nas partes infectadas das plantas até ao surgimento de condições climáticas favoráveis. Esta doença infecta o milho recém plantado, transportado por gotas de água. A correta preparação do solo e a remoção dos resíduos da colheita anterior são medidas preventivas essenciais. A presença de água parada promoverá a propagação da helmintosporiose. Procure melhorar as áreas do campo onde a água tende a se acumular e a formar poças. Se possível, cubra o solo com folhas de polietileno para reduzir a evaporação da água do solo.

Sintomas de helmintosporiose em folha de milho

Mancha ocular

Chama-se mancha ocular a uma doença fúngica causada pelo fungo Aureobasidium zeae. O patógeno passa o inverno nos resíduos de milho deixados no campo após a colheita, sendo assim importante desenvolver uma rotina de remoção destes. Esta doença do milho raramente necessita de tratamento.

Sintomas de mancha ocular em folha de milho

Carvão-do-topo

O carvão do topo (ou carvão do pendão) do milho é causado pelo fungo Sphacelotheca reiliana e é caracterizada pela formação de massas de esporos de cor negra nas espigas e pendões.

Esta doença fúngica pode ser comum em certas zonas. Se for o caso, é aconselhável tratamento com fungicidas.

Anthracnose

A antracnose o milho é uma doença foliar favorecida pela falta de rotação de culturas e não eliminação de resíduos da colheita anterior. Os sintomas surgem sob a forma de lesões nas folhas inferiores, normalmente em alturas de tempo húmido e nublado. Os sintomas, facilmente ignorados no início, podem parecer pequenas manchas de água ovais/alongadas nas folhas, que posteriormente adquirem cor marrom, com bordas de laranja claro a vermelhas. Estas manchas coalescem, provocando a necrose das folhas. É também possível notar círculos de pequenos pontos pretos no meio das lesões necróticas – os corpos frutíferos do fungo. Este fungo pode causar um grave acamamento e quebramento das plantas.

Outros elementos a observar

  • Atenção a possíveis deficiências de nitrogênio e potássio observando as folhas inferiores das plantas.
  • As plantas podem adquirir coloração arroxeada se a polinização ou a formação dos grãos não for bem sucedida.
  • Períodos de estiagem poderão fazer as plantas florescer antes do esperado, assim como um atraso no embonecamento. Se possível, deverá ser providenciada irrigação. Uma fraca antese e largada de pólen são outros sintomas de estresse hídrico.

Conclusão

Enfatizamos a importância do monitoramento das culturas durante a fase do pendoamento. O uso de satélites no monitoramento dos cultivos pode tornar nossas vidas mais simples, dado que pode nos ajudar a identificar mais eficazmente doenças e deficiências nutricionais em plantações de milho e, consequentemente, a identificar as áreas que mais necessitam de medidas preventivas. Os satélites permitem também monitorar um grande número de parcelas, o que não é possível com a simples observação no terreno. Assim, não só permitem desfrutar de alertas precoces, mas também saber a localização exata de qualquer potencial problema.